Memória Viva #32 - Flávia Abreu

 Flávia Abreu e as tranças africanas.
19 de outubro de 2021
E.E. Maria Tereza de Jesus Paiva.
Jardim Planalto/Jardim Floresta em Mogi Mirim (SP)
Foi com enorme prazer que no dia de hoje, 19 de outubro de 2021, conversamos com mais uma memória viva do território que compreende as comunidades do Jardim Planalto e Jardim Floresta na periferia de Mogi Mirim (SP). Flávia Abreu, 43 anos de idade, uma mulher, negra e trancista; nos contemplou com a sua história pessoal de resistência e luta. Flávia Abreu, nos contou sobre a sua infância cercada por mulheres tenazes, entre elas, a sua querida Vó Georgina, com quem aprendeu muito e foi uma enorme referência e exemplo para a sua vida. A vó Georgina gostava muito de plantar e tinha uma enorme conexão com a natureza! Flávia, traz em sua memória, que em toda casa em que ela, sua avó e toda sua família se mudavam, sempre vó Georgina encontrava um espaço no quintal para se plantar de tudo e, consequentemente, alimentar a família. Uma das suas memórias mais marcantes que a Flávia compartilhou conosco durante o seu depoimento, foi relembrar sobre o encantamento que a acometia quando a sua vó Georgina preparava o milharal. Foi aí, que Flávia foi desenvolvendo a sua paixão pelas tranças ao começar, enquanto criança, a observar os cabelos das espigas de milho que a fascinavam pelas suas cores, texturas e formatos. Aquela garotinha que na época tinha, por volta, de oito anos de idade e ficava horas brincando no milharal, imaginando que ali fosse o seu "salão de cabelereiro", tornou-se uma especialistas em tranças e penteados de cabelos afro. Além disso, Flávia narrou toda a sua experiência e vivência enquanto uma talentosa fazedora e criadora de tranças; e seu grande sonho de ter seu próprio salão de tranças e penteados afro em sua própria comunidade. 
Durante a coleta de suas memórias, Flávia, mencionou sobre o enorme preconceito e estigma social que os moradores do Jardim Planalto/Jardim Floresta sofrem por parte da sociedade mogimiriana. Muitas pessoas não são aceitas em empregos ou tem suas entrevistas de emprego canceladas após informarem que moram na comunidade. Flávia, diz ter um orgulho imenso de morar na comunidade e menciona sobre a necessidade de desconstruir esses estereótipos sociais preconceituosos criados em relação ao lugar. 
Outro aspecto bastante interessante durante a conversa com a simpática Flávia, foi sobre a relação do cabelo/estética e o racismo. Ela, relatou ser uma estudiosa e pesquisadora sobre os cabelos afro e fala da importância de se valorizar os penteados e toda a estética de origem africana como uma ferramenta de enfrentamento ao racismo inserido na sociedade brasileira. Sendo assim, Flávia Abreu, esteve realizando alguns dias depois dessa entrevista uma oficina de tranças africanas para os estudantes da E.E. Maria Tereza de Jesus Paiva que tiveram a oportunidade de terem seus cabelos trançados das mais variadas formas. Bem, a entrevista com a Flávia está permeada de muitas histórias e memórias potentes.